Adaptação de Mãe

Outro dia, estava deixando os pequenos na escola quando percebi os olhos vermelhos de uma moça sentada num banco. Olhava para cima, fazendo um enorme esforço pra não deixar as lágrimas cair. Pensei: “Deve estar em adaptação”. Na escola, dizem que a criança está em adaptação, mas, na verdade, nós também estamos. E seria muito bom se soubéssemos que nossas mães, avós dos nossos pequenos que berram lá dentro, também, estariam lá fora sentadas, caso precisássemos de alguma coisa. Pois o que mais queremos nessa hora é o colo, o colo que estamos ali nos dispondo a dar ao nosso pequeno.

Existem crianças e crianças, umas sofrem mais, outras menos com a entrada na vida escolar. Algumas nem sofrem e acham aquilo tudo muito divertido. Eu sofri muito. Como criança e como mãe. Quando criança, ia todo o caminho chorando. Era devidamente arrastada até a escola. Não tinha questão, não tinha tanta psicologia, muito menos banco de adaptação. Me lembro das grades do portão por onde vi minha mãe ir embora, da sala do jardim de infância, do cheiro, do portão cinza da saída onde todo dia eu duvidava que encontraria a minha mãe. E encontrava. Todo dia ela estava lá. Ou ela ou a boa Alzira iam me buscar. Nunca me esqueceram. E eu me adaptei.

Hoje, tudo é melhor. Na adaptação dos meus filhos, eu pude ficar lá, sentada no banco, diferentemente da minha mãe. Mas não consegui me livrar do aperto no coração. Acho que por conta das minhas próprias memórias de infância.

Fiquei bastante tempo no banco. Com meu mais velho, então, que precisou se adaptar à primeira escola, no ano seguinte novamente, porque mudou de escola, e, no terceiro ano, porque mudou de professora. Acho que foram uns quinze dias por ano no banco, e com mais duas adaptações do mais novo, fiquei escolada. Entendo bem os olhos vermelhos daquela mãe. Sei bem o que é isso. E agora eles começam na escola tão pequenininhos! Levam lanche e fralda na mochila! Meu Pedro levava sem saber a chupeta num lugar secreto, que eu e a professora combinávamos!

Tenho até saudade daquele banco. Nele, ouvi muita conversa de mãe, aquela boa terapia de grupo, todas com o mesmo problema, de certa forma, todas iguais. E quando chega a hora de você tirar aqueles dedinhos do seu pescoço, e deixar o filho, mesmo chorando, no colo da professora, você quer morrer. Por mais que saiba que é assim mesmo, que faz parte da vida, que lá ele vai ter contato com outras crianças, blábláblá, você fica destruída. Eu ficava péssima. Saía da escola e desabava. Ficava lá, chorando na calçada, esperando ele parar de chorar. Às vezes, perdia o senso do ridículo e, como uma espiã maluca, subia no muro da escola para tentar vê-lo. Me lembro da imagem do pequeno Pedro segurando um baldinho vermelho que uma menina de cachinhos lhe dava. Ele brincando lá dentro e eu chorando lá fora.

É, ser mãe compreende mesmo muitas dualidades. É uma grande mistura de alegria e dor. Quando ele ficou sem chorar, pensei: “Ué, mas ele não vai chorar?”. E quase chorei por um novo motivo, porque ele não chorou. Coisa doida ser mãe.

A adaptação é difícil, mas passa rápido. Difícil mesmo é escolher a escola, pois colocamos esperanças demais nesse lugar que vai ser, de certa maneira, a extensão da nossa casa. Há que ter intuição. Você tem de entrar no lugar e, além de gostar da proposta pedagógica, precisa sentir um “é aqui”. Como comprar uma casa. Como se apaixonar. Mas é muito difícil achar uma escola perfeita. Temos muitos sonhos depositados nessa escolha. O sonho maior é o que todas nós queremos. Que eles sejam felizes. Que um dia descubram o que mais gostam de fazer e possam se sustentar fazendo o que gostam. Que aprendam a aprender. E, com o que aprenderem, ajudem a melhorar este planeta. Quanta responsabilidade, meu Deus!

Denise Fraga
Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI204001-15542,00.html